Narrativa Fotográfica
Ciclo
A narrativa "Ciclo" foi concebida em 2021, em meio à pandemia, como uma catarse terapeutica da minha própria vivência.
Em 2019, durante estudo do livro "Violência psicológica nas relações conjugais", da Doutora em Psicóloga Clínica Adelma Pimentel, tomei consciência das diversas violências que vivi em um relacionamento afetivo do passado.
Através deste primeiro contato busquei, durante a psicoterapia, aprofundar nas fragilidades que me levaram a, durante quase dois anos, me submeter a tais dinâmicas de violência.
Com o início da pandemia de covid no Brasil, em 2020, iniciei um profundo diálogo com as seguidoras que acompanhavam meu trabalho e se identificavam com meus relatos. Meu objetivo inicial era oferecer um espaço seguro para que essas mulheres pudessem desabafar e se sentir acolhidas sem julgamento.
Através destes diálogos, iniciei uma coleta de dados através de um formulário e mapeei os principais sentimentos vividos por essas mulheres, afim de ajudá-las a entender seus medos e se refugiarem na troca que aquelas conversas possibilitavam.
Durante a construção desta narrativa fotográfica, percebi que minha pesquisa havia começado anos antes. Atuando como Retratista de Mulheres, criei para as minhas clientes experiências de reconexão com o corpo e autoestima.
Durante a entrevista inicial, em que nos conhecíamos através um bate papo descontraído, ouvi dezenas de relatos de mulheres que, conscientes ou não, tiveram sua autoestima destroçada por uma figura com quem haviam se relacionado, em dinâmicas conjugais ou familiares.
Com a proximidade que cultivei com algumas dessas mulheres, pude observar como suas atitudes mudavam de acordo com a fase do ciclo de abuso que vivenciavam.
Munida de todas essas informações e do meu olhar, gestei e trouxe ao mundo a narrativa Ciclo, em uma percepctiva que ilustra os sentimentos experimentados pelas mulheres durante cada fase vivenciada.
São quatro as fases do ciclo do abuso, mapeadas por Lenore Walker em 1979: calmaria, tensão, violência aguda e reconciliação.
Na narrativa, por exemplo, apresento as fotos em um formato cujo início e fim se confundem, espelhando o sentimento de confusão mental relatado por dezenas das entrevistadas. Mas não quero traduzir as imagens, apresentando o que pensei ao contruí-las.
Meu desejo com essa construção é que ela sejam apreciada e sentida, pois sei que ressoará em cada mulher que vive ou já vivenciou uma relação abusiva.
Karen Ramos, 2021








